segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Criatura

Quando os séculos ainda não tinham substância e o planeta Terra ainda se encontrava sem forma dentro do ovo primordial, uma decisão foi tomada:

- «Deixemos o Caos reinar. Observemos o decurso da História»

Então Deus disse: - «Faça-se luz»

Com esta ordem o ovo explodiu, espalhando a sua mensagem num espaço que ele próprio criava à medida que ia crescendo.

Eons passaram e as fantásticas temperaturas criadas pela explosão foram diminuindo e a matéria agregando-se em colapsos gravitacionais. Inimagináveis são mesmo as dimensões do que estou falando: primeiro criaram-se os clãs, cada clã constituído por várias famílias, cada família por várias galáxias e em cada galáxia surgiram vários berçários de Estrelas e num destes berçários nasceu o nosso SOL e com ele o planeta Terra.

E então o planeta nos inventou. E nós inventámos uma perplexidade. E esta perplexidade criou o medo. E o medo inventou os deuses. E os deuses inventaram-nos uma inteligência racional, que logo os negou inventando a pergunta : “QUEM SOU?”

Ao tentarmos responder a esta questão, nos afundamos nos tortuosos caminhos da ignorância. Mas como que por magia, ao procurar resposta a esta questão, respostas a outras vão surgindo e com elas nasce um emblemático sentimento de que somos donos do Universo.

Deus, ao observar a Sua obra, viu num pequeno canto de uma pequena galáxia, algo que O deve ter “assustado”: uma frágil criatura com a capacidade de inventar Deus.

Aí os anjos vieram. Vieram para nos ajudar a retornar ao caminho do Caos, onde o desequilibro de forças e a impredictibilidade dos resultados, geram evolução.

Mas aquela inteligência racional inventada, questiona O próprio Deus: «Se tudo o que existe necessita de um lugar onde existir, em que lugar estaria Deus quando ordenou a criação de tudo?».

Esta questão nos leva à compreensão de que somos animais relativos, presos num sistema fechado e limitados pelo sensorial. E esta compreensão nos leva à revolta e essa revolta nos leva a querer sair das fronteiras designadas pelo Caos e a querer pular a cerca para o quintal do Divino Vizinho, lugar onde poderemos também ser divindades.

Assim, o Homem responde à questão do “QUEM SOU?”, assumindo uma posição de amado por Deus, convicto que um dia navegará pelo cosmos, e que encontrará a tal fronteira, que depois de ultrapassada, lhe dará a oportunidade de encarar o seu Criador e em animada cavaqueira Lhe perguntar “PORQUÊ?”

(Henrique Moreira - 1975)

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